sortes que tivemos sem as merecer,
não teríamos coragem de
nos lamentar."
Jules Renard
sortes que tivemos sem as merecer,
não teríamos coragem de
nos lamentar."
Jules Renard
A felicidade é como a plumaQue o vento vai levando pelo arVoa tão leveMas tem a vida brevePrecisa que haja vento sem parar
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnavalA gente trabalha o ano inteiroPor um momento de sonhoPra fazer a fantasiaDe rei ou de pirata ou jardineiraPra tudo se acabar na quarta-feira
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de florBrilha tranqüilaDepois de leve oscilaE cai como uma lágrima de amor
Tristeza não tem fimFelicidade sim
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras?
Tudo.
Que desejas?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.
Outrora. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra ...
Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Fernando Pessoa
Augusto Cury
DAS UTOPIASNão é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não foraA presença distante das estrelas!
DOS MILAGRESOu luz ao cego, ou eloquência ao mudo...Nem mudar água pura em vinho tinto...
DO AMOROSO ESQUECIMENTOEu, agora - que desfecho!Já nem penso mais em ti...Mas será que nunca deixoDe lembrar que te esqueci?
DA DISCRIÇÃOQue ele um outro amigo tem.E o amigo do teu amigoPossui amigos também...
DOS MUNDOSDeus criou este mundo. O homem, todavia,Entrou a desconfiar, cogitabundo...Decerto não gostou lá muito do que via...E foi logo inventando o outro mundo.
DA OBSERVAÇÃOEstuda, a frio, o coração alheio.Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...Mário Quintana in Espelho Mágico
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
Olavo Bilac
como a de qualquer gente que ama;
e saber de si numa perspectiva qualquer."
Célia de Lima