quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Eu cantarei de amor tão docemente



          Eu cantarei de amor tão docemente,
          Por uns termos em si tão concertados,
          Que dois mil acidentes namorados 
          Faça sentir ao peito que não sente. 

          Farei que amor a todos avivente, 
          Pintando mil segredos delicados, 
          Brandas iras, suspiros magoados, 
          Temerosa ousadia e pena ausente. 

          Também, Senhora, do desprezo honesto 
          De vossa vista branda e rigorosa, 
          Contentar-me-ei dizendo a menor parte. 

          Porém, para cantar de vosso gesto 
          A composição alta e milagrosa 
          Aqui falta saber, engenho e arte.

          Luís de Camões



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