Caixas de tamanhos diversos,
cores mil,
laços bordados em todos os extremos,Vitrines com cenários Natalinos,
com o verde acenando a esperança
Rumo ‘a vidas sem dores e guerrasAs fitas dos presentes se desembrulham,
caem livremente,
como na dança de um corpo ritmadoO espírito do amor baila pelos ares,
exalando a pétala da bondade
Suave e profunda,
acaricia os rostos embriagados pela desilusãoOs espinhos são contemplados por olhares profundos
Mesclam-se nas pétalas que formam pedaços de flores
Unidos em só canção
Nas vozes trêmulas de anjos
Gotejam a alma faceira
De um mundo mais harmônico
Celebrando a aspirante PAZ.Débora Vilella Petrin
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Poema de Natal
sábado, 20 de dezembro de 2008
Está chegando o verão - Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Asas da liberdade

Logo que o sol aponta no resplandecer de cada dia nascente, a natureza saúda os homens com suas hostes de esperança. Então, faz um convite mágico a todas as criaturas que transitam nesse planeta, convocando-as para, juntamente com ela, o seu destino. Sua voz é fina, é dotada de insigne beleza; sua voz canta alto. A natureza comunica-se conosco pelos mais diversos meios, mas é pelo canto dos pássaros que ela faz valer a sua voz.
Pássaros grandes, pequenos. Sua plumagem abastada ensina a lição que a magia da criação está na sua diversidade; com cantos magníficos ou simples piados eles cumprem a sua missão de levar aos ouvidos humanos as mensagens implícitas da vida, como verdadeiros Hermes da existência.
Mas de todas as raças, uma com certeza conquista o homem.
Oriundos da Austrália, os pássaros da raça Diamante Gold hipnotizam-nos pela sua graça e inocência, que só os seres do Éden são capazes de possuir. Penas em cores exaltadas preenchem os corpos das pequenas aves, verdadeiras obras de arte pintadas por autoria do acaso. Pássaros de imenso primor, como aquele que Amanda ganhou no seu aniversário.
O presente veio das mãos do pai, que buscava amenizar a angústia de uma filha deprimida. Confinada a uma cadeira de rodas, a menina, no entanto, já havia se acostumado com sua sina. Desde muito nova, nunca viveu a vida igual às outras pessoas: participava de seu modo, num mundo particular, composto de atos e comportamentos diferentes, mas os quais não podia repreender. A intransigência dos homens a repudiava, de um lado pelo preconceito e de outro pela indiferença.
Sentia-se familiarizada com o pássaro. Afinal, ambos viviam num mundo de prisões. As lembranças de sua vivência reapareciam das covas pútridas de sua angústia, trazendo consigo melancolia. Não era fácil enfrentar as crianças que apontavam os dedos curiosos em sua direção, todos os dias, ou o constrangimento ser diferente, de jamais imaginar a sensação de coisas simples que todas as pessoas faziam, sem entender o encanto de cada ato. O animal na gaiola lhe sentimentos desagradáveis. Com certeza, seria melhor que ele estivesse livre.
A sós com o passarinho, Amanda observava, embasbacada, a beleza única do animal. Abruptamente, segurou a gaiola nas mãos. Os olhos atentos da ave voltaram-se para a menina, analisando o desconhecido. No olhar, podia-se sentir a pureza que jamais seria corrompida.
Amanda abriu a portinhola da gaiola e agarrou a pequena ave, de tons negros e azulados, nas suas mãos. Uma comunicação silenciosa se fez, através dos olhares imobilizados.
A menina dirigiu-se à janela; em seguida soltou o pássaro, elevando de uma só vez seus braços aos céus..
Pelas árvores verdejantes do parque ela ainda podia ver o ilustre animal, alternando seus vôos e pousos, entre peripécias. Nas asas da liberdade, Amanda também voava, realizando os seus mais infantes sonhos, delírios de uma mente sedenta de libertação.
No fim, ela ouvia as vozes da natureza falando e entendia, por sons compreendidos somente pela pureza, que o homem pode até transformar a vida e construir gaiolas, mas seu verdadeiro valor, consiste de fato, numa atitude que exige muito menos dele: abrir as portas de suas prisões e se integrar, assim como os pássaros, à fonte de toda a sua existência, a natureza.
Autor desconhecido
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Microcosmo

Pensando e amando, em turbilhões fecundos
És tudo: oceanos, rios e florestas;
Vidas brotando em solidões funestas;
A Terra; e terras de ouro em céus profundos,
Cheias de raças e cidades, estas
Em luto, aquelas em raiar de festas;
Outras almas vibrando em outros mundos;
E as nebulosas, gêneses imensas,
Fervendo em sementeiras de astros novos;
E todo o cosmos em perpétuas flamas…
- Homem! és o universo, porque pensas,
E, pequenino e fraco; és Deus, porque amas!
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Dentro de mim mora um anjo

Dentro de mim mora um anjoQuem me vê assim cantandonão sabe nada de mimdentro de mim mora um anjoque tem a boca pintadaque tem as asas pintadasque tem as unhas pintadasque passa horas a fiono espelho do toucadordentro de mim mora um anjoque me sufoca de amor
Composição: Sueli Costa/ CacásoDentro de mim mora um anjoque arrasta as suas medalhase que batuca pandeiroque me prendeu nos seus laçosmas que é meu prisioneiroacho que é colombinaacho que é bailarinaacho que é brasileiro.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
A história do lápis

Um menino olhava para a avó a escrever uma carta. A certa altura perguntou:
- Estás a escrever uma história que aconteceu comigo? E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou de escrever a carta, sorriu e comentou com o neto:
- Estou a escrever sobre ti, é verdade. No entanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou a usar. Gostava que tu fosses como ele, quando cresceres.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.
- Mas é igual a todos os lápis que vi na minha vida!
- Tudo depende do modo como tu olhas para as coisas. Há nele cinco qualidades que, se as conseguires manter, farão de ti uma pessoa sempre em paz com o mundo.A primeira qualidade: tu podes fazer grandes coisas, mas nunca te deves esquecer de que existe uma Mão que guia os teus passos. A esta mão nós chamamos Deus, e Ele deve sempre conduzir-te em direção à Sua vontade.
A segunda qualidade: de vez em quando, é preciso parar de escrever e usar o afia-lápis. Isso faz com que o lápis sofra um bocado, mas deixa-o mais afiado. Portanto, aprende a suportar algumas dores, porque elas farão de ti uma pessoa melhor.
A terceira qualidade: o lápis permite sempre que usemos uma borracha para apagar aquilo que está errado. Percebe que corrigir uma coisa que fizemos não é necessáriamente mau, mas importante para nos manter no caminho da justiça.
A quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou a sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, presta sempre atenção naquilo que acontece dentro de ti.
Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele deixa sempre uma marca. Da mesma maneira, compreende que tudo o que tu fizeres na vida vai deixar traços, por isso tenta ser consciente de todas as tuas ações."
(Ser Como o Rio Que Flui - PAULO COELHO)
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Olho as minhas mãos

Olho as minhas mãos: elas só não são estranhasPorque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-lasAssim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar…Fechá-las, de repente,Os dedos como pétalas carnívoras !Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamentoComo tecem as teias as aranhas.A que mundoPertenço ?No mundo há pedras, baobás, panteras,Águas cantarolantes, o vento ventandoE no alto as nuvens improvisando sem cessar.Mas nada, disso tudo, diz: "existo".Porque apenas existem…Enquanto isto,O tempo engendra a morte, e a morte gera os deusesE, cheios de esperança e medo,Oficiamos rituais, inventamosPalavras mágicas,FazemosPoemas, pobres poemasQue o ventoMistura, confunde e dispersa no ar…Nem na estrela do céu nem na estrela do marFoi este o fim da Criação !Mas, então,Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?Quem faz - em mim - esta interrogação ?Mário Quintana
sábado, 6 de dezembro de 2008
Origem feminina - Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
O arco

Que quer o anjo? Chamá-laO que quer a alma? perder-sePerder-se em rudes guianaspara jamais encontrar-seQue quer a voz? encantá-lo.Que quer o ouvido? Embeber-sede gritos blasfematóriosaté que dar aturdido.Que quer a nuvem? raptá-lo,Que quer o corpo? solver-se,delir memória de vidae quanto seja memória.Que quer a paixão? detê-lo.Que quer o peito? fechar-secontra os poderes do mundopara na treva fundir-se.Que quer a canção? erguer-seem arco sobre os abismos.Que quer o homem? salvar-se,ao permeio de uma canção.Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Paisagem

Passavam pelo ar aves repentinas,O cheiro da terra era fundo e amargo,E ao longe as cavalgadas do mar largoSacudiam na areias as suas crinas.Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elásticas e dura,Eram as gotas de sangue da resinaE as folhas em que a luz se descombina.Eram os caminhos num ir lento,Eram as mãos profundas do ventoEra o livre e luminoso chamamentoDa asa dos espaços fugitiva.Eram os pinheirais onde o céu poisa,Era o peso e era a cor de cada coisa,A sua quietude, secretamente viva,E a sua exaltação afirmativa.Era a verdade e a força do mar largo,Cuja voz, quando se quebra, sobe,Era o regresso sem fim e a claridadeDas praias onde a direito o vento corre.Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Protopoema

Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e derepente não sei se as águas nascem de mim, ou para mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que vagarosamente deslizam sobre a película luminosa dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu corpo despido brilha debaixo do sol, entre o esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que as aves digam nos ramos por que são altos os choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem, sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.
José Saramago
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
A redução do pensamento à palavra

O homem parecia ter desapontadamente perdido o sentido do que queria anotar. E hesitava, mordia a ponta do lápis como um lavrador embaraçado por ter que transformar o crescimento do trigo em algarismos. De novo revirou o lápis, duvidava e de novo duvidava, com um respeito inesperado pela palavra escrita. Parecia-lhe que aquilo que lançasse no papel ficaria definitivo, ele não teve o desplante de rabiscar a primeira palavra. Tinha a impressão defensiva de que, mal escrevesse a primeira, e seria tarde demais. Tão desleal era a potência da mais simples palavra sobre o mais vasto dos pensamentos. Na realidade o pensamento daquele homem era apenas vasto, o que não o tornava muito utilizável. No entanto parece que ele sentia uma curiosa repulsa em concretizá-lo, e até um pouco ofendido como se lhe fizessem proposta dúbia...
Clarice Lispector in A maçã no escuro
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Apesar dos nossos defeitos
Augusto Cury
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro pra ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doirasem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...Livros são papéis pintados com tintaQuanto é melhor, quando há bruma.
Estudar é uma coisa que está indistinta,
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!Grande é a poesia, a bondade e as danças...O mais que isto
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Se quando, em vez de criar, seca.
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Assovio

Ninguém abra a sua portapara ver o que aconteceu:saímos de braço dado,a noite escura mais eu.
Ela não sabe o meu rumo,eu não lhe pergunto o seu:não posso perder mais nada,se o que houve já se perdeu.
Vou pelo braço da noite,levando tudo que é meu:- a dor que os homens me deram,e a canção que Deus me deu.
Cecília Meireles
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Arte=beleza: O início

Assim como o camponês cria a arte na natureza
O artista alimenta a alma com os frutos da beleza
O pão alimenta o corpo, a arte alimenta os sentimentos
Um vem dos prados da terra e o outro, dos pensamentos
E se não pode nos faltar, a comida, o alimento
A arte é imprescindível, na vida, a cada momento
Venha em palavras doces, em sons, formas ou cores
A arte é o calmante, que apazigua as nossas dores
A beleza é um lugar, que estamos a buscar
Porque lá estão as chaves que vão nos libertar
A beleza é divina, é conquista, fascinação
Beleza é arte, a arte é evolução
Que expressamos calmamente
Como a lapidação de um diamante
Realizando intensamente
Os sonhos mais delirantes
Enigmaticamente, moldando a certeza:
A manifestação da arte, todos tendem a seguir
Pois está na natureza, a maior expressão da beleza
A perfeição concretizada, a que sonhamos atingir...Autor desconhecido
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Anjos
"Não há remédio que cure o que a felicidade não cura"
27 de setembro. A cidade toma tons coloridos na paisagem e nas almas de seus habitantes. A alegria pode ser sentida pairando no ar, quebrando a aspereza e insensibilidade dos dias comuns. Nas ruas, as crianças passeiam, ostentando os seus chocolates e balas, cantarolando cirandas infantis. Elas passam abrindo sorrisos deliciosos e, entre brincadeiras, degustando a doçura da vida. Sua alegria contagiante transformava as casas e prédios num imenso arco-íris de luz, retirando o fel dos corações até daqueles que perderam o seu encanto com a impiedosa cavalgada do tempo.
No centro da monumental e antiga igreja, o animado padre cuidava dos últimos detalhes da decoração. As fitas de cetim em cores fortes davam movimento à escuridão e as flores perfumadas contrastavam com a seriedade do templo. Ao lado direito do altar, a meninada se assanhava. E como um grande batalhão, um a um dos integrantes do coral ia tomando a sua posição, repreendendo o nervosismo inevitável que antecedia a cantoria. Em pouco tempo, os fiéis já ocupavam os bancos da "Casa de Deus": a missa daquela quinta-feira seria muito especial. O coral cantava a todo o vapor os cânticos religiosos, alternando entre graves e agudos de infinita beleza, que logo ecoavam por toda a vizinhança.
A sábia senhora negra que a tudo assistia reparava nas crianças do coro: bochechas avermelhadas, cabelos e pele claros. Silenciosamente, ela engolia mais uma vez o desaforo que maltratava o seu coração. Curioso era, que a mesma igreja que pregava a igualdade entre os homens, constituía um coral unanimente ariano...
A magnitude das preces ia, minuto a minuto, esgotando-se. As atenções e os olhares começavam a se dispersar. A voz do pároco tornara-se cansativa e a missa começava a perder seu propósito. As pessoas alienavam-se da reza e mergulhavam suas cabeças em seus problemas pessoais; e o padre, agora, pronunciava palavras sem sentido.
Mas é 27 de setembro, é o dia de São Cosme e São Damião. Os santos das crianças, a única esperança para muitas. E em seu coral, ninguém era esquecido... Esse dia não poderia ser apenas mais um.
Dos bancos, as crianças olhavam encantadas os querubins pintados na parte superior da igreja, que brincavam no céu artificial. Os contornos barrocos enchiam de beleza o cenário dando traços generosos aos anjos que ganhavam vida. E tal como os meninos, eles quebravam a impaciência e indiferença das pessoas. No dia de São Cosme e São Damião, os anjos pareciam aproximar-se mais dos homens, a todos que os louvavam e pediam a sua proteção.
Contudo, outros anjos que habitam entre nós são esquecidos e sofrem com o descaso. Anjos, como o pequeno Ângelo, o subnutrido e mísero menino das periferias. Para ele, nem os doces de São Cosme e Damião tiravam a amargura da vida.
Desde que vira a mãe definhando lentamente, presa a uma cama pobre até a morte, resolveu não mais soltar a sua voz. E realmente, nunca mais pronunciou palavra alguma. À noite, amontoava-se aos quatro irmãos desencaminhados, no barraco de proporções ínfimas, localizado ao lado de um córrego que de tempos em tempos subia e fazia o anjo da morte baixar na Terra.
A luta pela sobrevivência era sua missão e a cada dia que se passava ele se deparava com monstros cada vez maiores. O silencioso menino carregava todas as manhãs a desgastada e suja caixa de engraxate, perambulando pelo centro da cidade, perto da antiga igreja. Por ali, os homens de negócio transitavam sempre, com seus ternos imponentes e sorrisos de aço. E lá ele ficava, esperando que algum deles se apiedasse de sua dor e deixasse que ele prestasse o simbólico serviço. Com certeza, eles cederiam uma migalha do pão velho de suas padarias.
Certa vez, Ângelo resolveu entrar na Catedral do centro da cidade e, admirando os querubins do teto, recebeu um presente dos céus. Uma linda mulher surgiu em frente a seus olhos e lhe ofereceu um ursinho de pelúcia, amarelo, perfumado, puro. Foi no mesmo dia em que o coral cantou como jamais se viu.
Agora, a vida do menino se corava. Uma felicidade gigantesca visitava seu coração depois de muito tempo de ausência. Ângelo esqueceu da dureza de sua caminhada e de volta ao pobre barraco, dormiu celestialmente, repleto da alegria que o singelo presente lhe dava.
Naquela noite, a magia se fazia presente. No mundo da fantasia, os querubins visitavam Ângelo, que com eles brincava e por eles era abençoado. Ele também podia voar junto aos anjos, passeando pelos campos de seus sonhos. A floresta virgem o chamava e junto com os querubins, ele se banhava em uma linda cachoeira, sorridente. Com seus frágeis membros, espalhava água para todos os lados, esbanjando a sua meninice, que um dia lhe fora roubada. Ali ele se sentia bem. O sofrimento morrera e a pobreza não existia.
Mas o nascer do sol põe fim à festa. O grito estridente e desesperado de um galo traz Ângelo de volta à realidade, arrancando-lhe da única coisa que a maldade e negligência dos homens não conseguiam lhe tirar: os sonhos. O cheiro de enxofre que a miséria produzia invadia os poros do nosso anjo. Um suspiro refletia a estrondosa insatisfação de ter voltado de sua viagem.
O sol da manhã já estava forte. Ângelo passa a mão na severa e inseparável caixa, olha para o seu ursinho, angelicalmente, e parte novamente para o seu martírio, no centro da cidade. Saía, entretanto, motivado. Porque ele sabia que a noite, como um manto, cairia sobre a frialdade de seus dias, e logo os anjos voltariam a estar bem do seu lado, levando-o do mundo das trevas para o retiro de seu amor.
Autor desconhecido
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Meus passos

Ando em cadência, no ritmo do meu peito que vibra. Dou passos no caminho de pedra, passos na grama, na terra úmida e de volta à pedra. Piso na poça que a chuva formou, não me importo. Não perco o compasso. Quero sentir, quero respirar. Redescobrir, re-conhecer.
Os pés gelados, a neblina cerrada envolve num abraço o corpo todo. Atmosfera de inverno da infância, promessa de infinitas possibilidades. O bosque velado, apenas as araucárias se impõem ao olhar, esculturas de majestosa atemporalidade, guardiãs do ontem e do sempre.
Meus passos são um pouco passos de criança, brincalhões. Mas são passos firmes, portam confiança, consciência. Buscam o passado, desejam o futuro, aceitam o presente, intensamente. Não é dia para passos melancólicos, de sabor agridoce.
Estou em casa...
Letícia L. Möller
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Longe, longe

Bancos vaziosem corredores soturnos.
Prédios noturnosme observam calados.
Rostos, vozestudo, tudolonge, longe...
O silêncio saltafaz piruetas e dança, invisívelpelo espaço intransponívelque separa eu de mim.Não ouço meus passosmas não importapois nem eu nem cada portapor que passocompreende esse trajeto.Segurocom as estrelaso peso dos véus,do escuroe da ausênciainadmissívelintocávelintransponívelinassimilável.O vento ventamas venta pouco.Quem dera a paz...Ventasse mais...Ventasse mais!E expulsassede minha mente enfumaçadaas centopéias indecifráveisque me fazem não achar.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Aurora

O poeta ia bêbedo no bonde.
O dia nascia atrás dos quintais.
As pensões alegres dormiam tristíssimas.
As casas também iam bêbedas.
Tudo era irreparável.
Ninguém sabia que o mundo ia acabar
(apenas uma criança percebeu mas ficou calada),
que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Últimos pensamentos! últimos telegramas!
José, que colocava pronomes,
Helena, que amava os homens,
Sebastião, que se arruinava,
Artur, que não dizia nada,
embarcam para a eternidade.
O poeta está bêbedo, mas
escuta um apelo na aurora:
Vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore?
Entre o bonde e a árvore
dançai, meus irmãos!
Embora sem música
dançai, meus irmãos!
Os filhos estão nascendo
com tamanha espontaneidade.
Como é maravilhoso o amor
(o amor e outros produtos).
Dançai, meus irmãos!
A morte virá depois
como um sacramento.Carlos Drummond de Andrade
sábado, 8 de novembro de 2008
Conhece o vocábulo escardinchar? - Rubem Braga

sexta-feira, 7 de novembro de 2008
A adversidade desperta em nós...
teriam ficado adormecidas."Horácio
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
A música está submersa em todas as coisas...

A música está submersa em todas as coisas...
É a alma que canta em tudo que é vivo, em tudo que é vida!
Há música em tudo, até mesmo no silêncio, ecoando os acordes do tempo!
Nada como se embriagar de música, na alegria ou na tristeza!
Ela celebra, acorda a alma, muda a sintonia!
Meu ópio diário para libertar a dor e celebrar a vida!
Que a música nos eleve...!!
O tempo? Pura sinfonia...
Poesia? Música em movimento...
Raiblue
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Caminhante
Caminhante, são teus rastoso caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamaisse há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,somente sulcos no mar.
Ontem eu sonhei que via
Deus e que a Deus falava;e sonhei que Deus me ouvia...Depois sonhei que sonhava...
Dizes que nada se cria?Não te importes, e com o barroda terra faz uma taçapara que beba teu irmão.
Dizes que nada se cria?Oleiro, mãos ao trabalho!Faz teu copo e não te importese não podes fazer barro.
Dizes que nada se perde?Se esta taça de cristalse me partir, nunca nelaeu beberei, nunca mais.
À noite sonhei que ouviaDeus, que me gritava: Alerta!Depois Deus adormeciae eu gritava: Desperta!
Antônio Machado
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Sábio é o ser humano...
Augusto Cury
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Sonhos Azuis

Asas azuis, inquietas.
Sonhos bem frágeis de amor.
Almas puras e repletas
Do néctar fino da flor...
Deus, ó Deus, mas quem seria?
Quem haveria de estar
No sol morno deste dia
Por perfumes a vagar
Na primavera vadia?
Genildo Mota Nunes
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Amanhece

Amanhece
Água com gosto de pasta dentifrícia
O cheiro de café na cozinha
Uma cachorra sem nome a latir
Barulho de chaves a destrancar a porta
Carros chiando metais na avenida
Amanhece
Sol a correr no céu cinzento
Tecendo novas histórias de horror
Debaixo dos jacarandás
Debaixo dos trinados
Debaixo dos arco-íris
Amanhece
A cidade desperta aos poucos
A fumaça sobre o centro levita
Os cadernos no braço da estudante
Os sonhos de muitos cantam
Os sonhos de poucos esperam
Amanhece
O sorriso maroto do criador
Libertador de canções desesperadas
Nas missas das sete horas
Sermões sobre política e educação
As cores do nosso coração
Amanhece
Nuvens a ensaiar peças teatrais
Idéias a morrer nas mesas dos bares
Violões calados sem voz
Veias sujas que não querem cura
A violência da madrugada debaixo dos jornais
Amanhece
Bolha mágica cintilante
Cedo tudo se parece
Nebulosas gasosas
Espirais incandescentes
Pios de pássaros e sinos de igrejas
Amanhece
Sapatos sonolentos tropicam na calçada
O caos que domina a vida dos paulistas
Amor a regar flores nos vasos
Feirantes chamando as freguesas
O ritual de todas as manhãs
Carlos Assis
sábado, 25 de outubro de 2008
Em trilha de paca, tatu caminha dentro - Arnaldo Jabor

Esse texto da “Bunda dura” está famoso. Toda hora alguém me elogia. Há trechos assim:
E, só pra piorar: tem a bunda dura!!! Mulheres assim são um porre. Pior: são brochantes!”
Aí, a admiradora de bunda caída repete, feliz: “Adorei!”.
Aqui vão: “Tudo sobre minha mãe”, como no filme do Almodóvar, ou “Confissões de um menino no porão ou o dia em que dei num troca-troca”, ou até um texto de cunho mais folclórico e regional: “Em trilha de paca, tatu caminha dentro?”
Não temam, rapazes, não se escondam — expressem-se!