Caixas de tamanhos diversos,
cores mil,
laços bordados em todos os extremos,Vitrines com cenários Natalinos,
com o verde acenando a esperança
Rumo ‘a vidas sem dores e guerrasAs fitas dos presentes se desembrulham,
caem livremente,
como na dança de um corpo ritmadoO espírito do amor baila pelos ares,
exalando a pétala da bondade
Suave e profunda,
acaricia os rostos embriagados pela desilusãoOs espinhos são contemplados por olhares profundos
Mesclam-se nas pétalas que formam pedaços de flores
Unidos em só canção
Nas vozes trêmulas de anjos
Gotejam a alma faceira
De um mundo mais harmônico
Celebrando a aspirante PAZ.Débora Vilella Petrin
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Poema de Natal
sábado, 20 de dezembro de 2008
Está chegando o verão - Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Asas da liberdade

Logo que o sol aponta no resplandecer de cada dia nascente, a natureza saúda os homens com suas hostes de esperança. Então, faz um convite mágico a todas as criaturas que transitam nesse planeta, convocando-as para, juntamente com ela, o seu destino. Sua voz é fina, é dotada de insigne beleza; sua voz canta alto. A natureza comunica-se conosco pelos mais diversos meios, mas é pelo canto dos pássaros que ela faz valer a sua voz.
Pássaros grandes, pequenos. Sua plumagem abastada ensina a lição que a magia da criação está na sua diversidade; com cantos magníficos ou simples piados eles cumprem a sua missão de levar aos ouvidos humanos as mensagens implícitas da vida, como verdadeiros Hermes da existência.
Mas de todas as raças, uma com certeza conquista o homem.
Oriundos da Austrália, os pássaros da raça Diamante Gold hipnotizam-nos pela sua graça e inocência, que só os seres do Éden são capazes de possuir. Penas em cores exaltadas preenchem os corpos das pequenas aves, verdadeiras obras de arte pintadas por autoria do acaso. Pássaros de imenso primor, como aquele que Amanda ganhou no seu aniversário.
O presente veio das mãos do pai, que buscava amenizar a angústia de uma filha deprimida. Confinada a uma cadeira de rodas, a menina, no entanto, já havia se acostumado com sua sina. Desde muito nova, nunca viveu a vida igual às outras pessoas: participava de seu modo, num mundo particular, composto de atos e comportamentos diferentes, mas os quais não podia repreender. A intransigência dos homens a repudiava, de um lado pelo preconceito e de outro pela indiferença.
Sentia-se familiarizada com o pássaro. Afinal, ambos viviam num mundo de prisões. As lembranças de sua vivência reapareciam das covas pútridas de sua angústia, trazendo consigo melancolia. Não era fácil enfrentar as crianças que apontavam os dedos curiosos em sua direção, todos os dias, ou o constrangimento ser diferente, de jamais imaginar a sensação de coisas simples que todas as pessoas faziam, sem entender o encanto de cada ato. O animal na gaiola lhe sentimentos desagradáveis. Com certeza, seria melhor que ele estivesse livre.
A sós com o passarinho, Amanda observava, embasbacada, a beleza única do animal. Abruptamente, segurou a gaiola nas mãos. Os olhos atentos da ave voltaram-se para a menina, analisando o desconhecido. No olhar, podia-se sentir a pureza que jamais seria corrompida.
Amanda abriu a portinhola da gaiola e agarrou a pequena ave, de tons negros e azulados, nas suas mãos. Uma comunicação silenciosa se fez, através dos olhares imobilizados.
A menina dirigiu-se à janela; em seguida soltou o pássaro, elevando de uma só vez seus braços aos céus..
Pelas árvores verdejantes do parque ela ainda podia ver o ilustre animal, alternando seus vôos e pousos, entre peripécias. Nas asas da liberdade, Amanda também voava, realizando os seus mais infantes sonhos, delírios de uma mente sedenta de libertação.
No fim, ela ouvia as vozes da natureza falando e entendia, por sons compreendidos somente pela pureza, que o homem pode até transformar a vida e construir gaiolas, mas seu verdadeiro valor, consiste de fato, numa atitude que exige muito menos dele: abrir as portas de suas prisões e se integrar, assim como os pássaros, à fonte de toda a sua existência, a natureza.
Autor desconhecido
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Microcosmo

Pensando e amando, em turbilhões fecundos
És tudo: oceanos, rios e florestas;
Vidas brotando em solidões funestas;
A Terra; e terras de ouro em céus profundos,
Cheias de raças e cidades, estas
Em luto, aquelas em raiar de festas;
Outras almas vibrando em outros mundos;
E as nebulosas, gêneses imensas,
Fervendo em sementeiras de astros novos;
E todo o cosmos em perpétuas flamas…
- Homem! és o universo, porque pensas,
E, pequenino e fraco; és Deus, porque amas!
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Dentro de mim mora um anjo

Dentro de mim mora um anjoQuem me vê assim cantandonão sabe nada de mimdentro de mim mora um anjoque tem a boca pintadaque tem as asas pintadasque tem as unhas pintadasque passa horas a fiono espelho do toucadordentro de mim mora um anjoque me sufoca de amor
Composição: Sueli Costa/ CacásoDentro de mim mora um anjoque arrasta as suas medalhase que batuca pandeiroque me prendeu nos seus laçosmas que é meu prisioneiroacho que é colombinaacho que é bailarinaacho que é brasileiro.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
A história do lápis

Um menino olhava para a avó a escrever uma carta. A certa altura perguntou:
- Estás a escrever uma história que aconteceu comigo? E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou de escrever a carta, sorriu e comentou com o neto:
- Estou a escrever sobre ti, é verdade. No entanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou a usar. Gostava que tu fosses como ele, quando cresceres.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.
- Mas é igual a todos os lápis que vi na minha vida!
- Tudo depende do modo como tu olhas para as coisas. Há nele cinco qualidades que, se as conseguires manter, farão de ti uma pessoa sempre em paz com o mundo.A primeira qualidade: tu podes fazer grandes coisas, mas nunca te deves esquecer de que existe uma Mão que guia os teus passos. A esta mão nós chamamos Deus, e Ele deve sempre conduzir-te em direção à Sua vontade.
A segunda qualidade: de vez em quando, é preciso parar de escrever e usar o afia-lápis. Isso faz com que o lápis sofra um bocado, mas deixa-o mais afiado. Portanto, aprende a suportar algumas dores, porque elas farão de ti uma pessoa melhor.
A terceira qualidade: o lápis permite sempre que usemos uma borracha para apagar aquilo que está errado. Percebe que corrigir uma coisa que fizemos não é necessáriamente mau, mas importante para nos manter no caminho da justiça.
A quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou a sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, presta sempre atenção naquilo que acontece dentro de ti.
Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele deixa sempre uma marca. Da mesma maneira, compreende que tudo o que tu fizeres na vida vai deixar traços, por isso tenta ser consciente de todas as tuas ações."
(Ser Como o Rio Que Flui - PAULO COELHO)
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Olho as minhas mãos

Olho as minhas mãos: elas só não são estranhasPorque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-lasAssim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar…Fechá-las, de repente,Os dedos como pétalas carnívoras !Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamentoComo tecem as teias as aranhas.A que mundoPertenço ?No mundo há pedras, baobás, panteras,Águas cantarolantes, o vento ventandoE no alto as nuvens improvisando sem cessar.Mas nada, disso tudo, diz: "existo".Porque apenas existem…Enquanto isto,O tempo engendra a morte, e a morte gera os deusesE, cheios de esperança e medo,Oficiamos rituais, inventamosPalavras mágicas,FazemosPoemas, pobres poemasQue o ventoMistura, confunde e dispersa no ar…Nem na estrela do céu nem na estrela do marFoi este o fim da Criação !Mas, então,Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?Quem faz - em mim - esta interrogação ?Mário Quintana
sábado, 6 de dezembro de 2008
Origem feminina - Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
O arco

Que quer o anjo? Chamá-laO que quer a alma? perder-sePerder-se em rudes guianaspara jamais encontrar-seQue quer a voz? encantá-lo.Que quer o ouvido? Embeber-sede gritos blasfematóriosaté que dar aturdido.Que quer a nuvem? raptá-lo,Que quer o corpo? solver-se,delir memória de vidae quanto seja memória.Que quer a paixão? detê-lo.Que quer o peito? fechar-secontra os poderes do mundopara na treva fundir-se.Que quer a canção? erguer-seem arco sobre os abismos.Que quer o homem? salvar-se,ao permeio de uma canção.Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Paisagem

Passavam pelo ar aves repentinas,O cheiro da terra era fundo e amargo,E ao longe as cavalgadas do mar largoSacudiam na areias as suas crinas.Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elásticas e dura,Eram as gotas de sangue da resinaE as folhas em que a luz se descombina.Eram os caminhos num ir lento,Eram as mãos profundas do ventoEra o livre e luminoso chamamentoDa asa dos espaços fugitiva.Eram os pinheirais onde o céu poisa,Era o peso e era a cor de cada coisa,A sua quietude, secretamente viva,E a sua exaltação afirmativa.Era a verdade e a força do mar largo,Cuja voz, quando se quebra, sobe,Era o regresso sem fim e a claridadeDas praias onde a direito o vento corre.Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Protopoema

Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e derepente não sei se as águas nascem de mim, ou para mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que vagarosamente deslizam sobre a película luminosa dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu corpo despido brilha debaixo do sol, entre o esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que as aves digam nos ramos por que são altos os choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem, sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.
José Saramago