sortes que tivemos sem as merecer,
não teríamos coragem de
nos lamentar."
Jules Renard
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Se pensássemos em todas as sortes...
terça-feira, 26 de maio de 2009
A felicidade

A felicidade é como a plumaQue o vento vai levando pelo arVoa tão leveMas tem a vida brevePrecisa que haja vento sem parar
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnavalA gente trabalha o ano inteiroPor um momento de sonhoPra fazer a fantasiaDe rei ou de pirata ou jardineiraPra tudo se acabar na quarta-feira
Felicidade sim
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de florBrilha tranqüilaDepois de leve oscilaE cai como uma lágrima de amor
E tão delicada também
Que eu trato dela sempre muito bem
Tristeza não tem fimFelicidade sim
sábado, 23 de maio de 2009
Velhinha de Taubaté (1915-2005) - Luis Fernando Veríssimo
O fenômeno, que veio a público durante o governo Figueiredo, o último do ciclo dos generais, levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa das maiores atrações turísticas do estado.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Do outro lado da porta

Todos nós temos a capacidade de criarmos esse cenário de aprisionamento. Não é preciso ser infeliz para fazê-lo, basta se manter estático, não desejar sair do lugar, seja esse lugar abrigo para tristezas ou para alegrias. A falta de nuanças na vida da gente é das prisões mais receptivas, e nos recebe e acomoda sem mesmo percebermos entrar nelas.
Eu tenho uma coleção nada modesta de prisões, que acredito alimentar diariamente apenas ignorando a versatilidade da vida. O que me permite sair para o sol diário, passar apenas algumas horas na solitária, é a certeza de que quando não conseguimos fazer um movimento que nos dê a liberdade necessária para experimentar a vida, a própria nos dá um belo pontapé e nos manda sair andando. Nem sempre é fácil essa transição, mas certamente é construtiva.
Não consigo deixar de pensar nas coisas que deixei de fazer porque me senti compelida a acreditar não ser capaz. Olhando para trás, não é apenas um passado de tentativas vãs que me espia, mas sim a contemplação daquilo que independente de tempo e ainda pode fazer parte da minha biografia. Porque certos desejos são atemporais e dependem da sabedoria adquirida a cada prisão para serem realizados. Yin e yang.
A prisão nossa de cada dia, do esmero em não contrariar os fortes, saber lamentar os fracos; de cair no descontrole por ser contrariado, e até mesmo a sapiência que não é bem recebida e cuidada. Prisões são cantinhos onde guardamos as necessidades que não temos coragem de suprir, as frases que somos incapazes de proferir, as ideias e projetos que nos metem medo. É lá onde guardamos as belezas, os lugares, os sentimentos que queremos jamais deixar de sentir, mas que ali emudecem, empoeiram, são estancados. Proteger demais é aprisionar.
Acredito que um pouco de ousadia caia bem durante a liberdade, porque nos nutre de certa coragem para girarmos chaves, destrancarmos portas e cairmos no mundo. E ao voltarmos às prisões de cada dia – grades enfraquecidas – possamos vislumbrar o momento em que elas desabem: folhas despencando das árvores no outono.
Carla Dias
terça-feira, 19 de maio de 2009
Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras?
Tudo.
Que desejas?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
sábado, 16 de maio de 2009
O grampo da velhinha - Luis Fernando Veríssimo

- Quié?
- Vim consertar o telefone.
- Eu não tenho telefone.
O agente pensou com rapidez.
- Vim instalar o telefone e depois consertar.
- Mas eu não comprei telefone nenhum.
- Deve ser presente de alguém.
- Quem me daria um telefone de presente?
- Alguém que está tentando ligar para cá e não consegue.
A velhinha acreditou. Mas pensou um pouco e decidiu:
- Se ele já vem estragado, eu não quero.
- Mmmm. São grátis?
- E se eu quiser comprar depois de experimentar, posso?
- Pode.
- Quanto custa cada um?
- Dez mil dólares.
- É um pouco salgado...
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Datilografia

Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.
Outrora. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra ...
Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Fernando Pessoa
terça-feira, 12 de maio de 2009
Ser livre é...
Augusto Cury
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Das utopias
DO AMOROSO ESQUECIMENTOEu, agora - que desfecho!Já nem penso mais em ti...Mas será que nunca deixoDe lembrar que te esqueci?
DOS MUNDOSDeus criou este mundo. O homem, todavia,Entrou a desconfiar, cogitabundo...Decerto não gostou lá muito do que via...E foi logo inventando o outro mundo.
DA OBSERVAÇÃOMário Quintana in Espelho Mágico
terça-feira, 5 de maio de 2009
Nel mezzo del camin...

E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.Olavo Bilac
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Pra ser feliz...
como a de qualquer gente que ama;
e saber de si numa perspectiva qualquer."
Célia de Lima