A
perplexidade do moço diante de certas considerações tão ingênuas, a mesma
perplexidade que um dia senti. Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na
maquinazinha social azeitada pelo hábito de rir sem vontade, de falar sem
vontade, de chorar sem vontade, de falar sem vontade, de fazer amor sem
vontade... O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se apoltronando, mais há
de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil. Comunicação total, mimetismo:
entra numa sala azul, fica azul, numa vermelha vermelho. Um dia se olha no
espelho, de que cor eu sou? Tarde demais para sair pela porta afora.
Trecho
de "Eu era mudo e só" (Conto da obra Antes
do Baile Verde), de Lygia Fagundes Telles
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