Muito bom! Já contando as horas pra 2012.... !!!!!
Beijos, Feliz Ano Novo !!
A cada instante se criam novas categorias do eterno.
Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.
Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
essência ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.
Carlos Drummond de Andrade
"Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder... para me encontrar..."
Florbela Espanca
Chega dezembro e as festas pululam de todo canto. Tem festa de fim de ano da firma. Amigo oculto da turma da faculdade. A ceia com a família. O jantar beneficente. Os convites chegam em atacado. Provavelmente muito mais do que se estivéssemos, por exemplo, em maio. A impressão que tenho é a de que apenas em dezembro - quando existe a expectativa do fim e também do recomeço - é que temos consciência da finitude da vida. Aquela sensação de "já é natal de novo?" nos cutuca e nos faz cair na real sobre como o tempo está escapando pelas nossas mãos. Muito provavelmente não é por isso, mas acho que é um bom motivo para justificar a grande farra que vira dezembro. Outro dia alguém comentou no Twitter que a impressão que se tem é a de que o que vai acabar não é o ano, mas, sim, o mundo. E é bem isso mesmo. Gastamos o que não podemos. Anuciamos para aqueles que amamos o quanto eles nos são caros. Fazemos festas todos os dias. Mandamos toda e qualquer dieta para as cucuias. Afinal de contas, é tempo de aproveitar. Por que? Porque o ano vai acabar, oras! Mas logo vem outro ano, e, sabe-se lá porquê, entramos no modo monotonia outra vez. Economizando, sabe-se lá porquê. Camuflando nossos sentimentos, sabe-se lá porquê. Ficando em casa, sabe-se lá porquê. Deixando de apreciar comidas, engordativas sim, mas antes de tudo maravilhosas, sabe-se lá porquê. Enfim, sobrevivemos onze meses para viver em dezembro. A sexta-feira dos meses. Sabe o que eu quero para 2012? Doze dezembros e nada mais.
Fernanda Pinho
........O diagnóstico e a terapêutica.
O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer umreconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos,despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemosfebres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. Oamor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como pordescuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não podeimpedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente dealho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino eao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poçãocapaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveisbeberagens com garantia e tudo...
(Excerto de Diagnóstico do Amor in O Livro dos Abraços de Eduardo Galeano)
Ai, quem me dera terminasse a esperaRetornasse o canto simples e sem fimE ouvindo o canto se chorasse tantoQue do mundo o pranto se estancasse enfimAi, quem me dera ver morrrer a feraVer nascer o anjo, ver brotar a florAi, quem me dera uma manhã felizAi, quem me dera uma estação de amorAh, se as pessoas se tornassem boasE cantassem loas e tivessem pazE pelas ruas se abraçassem nuasE duas a duas fossem casaisAi, quem me dera ao som de madrigaisVer todo mundo para sempre afimE a liberdade nunca ser demaisE não haver mais solidão ruimAi, quem me dera ouvir o nunca-maisDizer que a vida vai ser sempre assimE, finda a espera, ouvir na primaveraAlguém chamar por mim.
Vinícius de Moraes
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.
José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"