Bom fim de semana! :)
sábado, 29 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Quero para mim o espírito desta frase...
"Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar."
Fernando Pessoa
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Via-láctea
(...)
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
(...)
Pinta-me a curva destes céus... Agora,
Erecta, ao fundo, a cordilheira apruma:
Pinta as nuvens de fogo de uma em uma,
E alto, entre as nuvens, o raiar da aurora.
Solta, ondulando, os véus de espessa bruma,
E o vale pinta, e, pelo vale em fora,
A correnteza túrbida e sonora
Do Paraíba, em torvelins de espuma.
Pinta; mas vê de que maneira pintas...
Antes busques as cores da tristeza,
Poupando o escrínio das alegres tintas:
- Tristeza singular, estranha mágoa
De que vejo coberta a natureza,
Porque a vejo com os olhos rasos d'água.
(...)
Olavo Bilac
sábado, 22 de outubro de 2011
(Eric Clapton) Wonderful Tonight - Sungha Jung
Como toca esse menino! E o cãozinho do lado, uma graça... rs
Aqui tem outro vídeo com ele tocando quando era criancinha...
http://www.youtube.com/watch?v=YGrH0aC_kVI&feature=related
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O passado é uma cortina de vidro
O passado é uma cortina de vidro.
Felizes os que observam o passado para poder caminhar no futuro.
Augusto Cury
terça-feira, 18 de outubro de 2011
9 poemetos
I
É quando a vida vase,
É quando como quase
Ou não, quem sabe.
II
Vim pelo caminho difícil,
A linha que nunca termina,
A linha bate na pedra,
A palavra quebra uma esquina,
Mínima linha vazia,
A linha, uma vida inteira,
Palavra, palavra minha.
III
O Paulo Leminski
é um cachorro louco
que deve ser morto,
a pau, a pedra
a fogo, a pique,
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique.
IV
Manchete,
Chutes de poeta,
não levam perigo à meta.
V
Apagar-me,
Diluir-me,
Desmanchar-me,
Até que depois
de mim,
de nós,
de tudo,
não reste mais
que o charme.
VI
Uma carta, uma brasa através,
por dentro do texto,
nuvem cheia da minha chuva,
cruza o deserto por mim,
a montanha caminha,
o mar entre os dois.
Uma sílaba, um soluço,
um sim, um não, um ai,
sinais dizendo nós
quando não estamos mais.
VII
Pariso,
novayorquizo,
moscoviteio,
sem sair do bar,
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar.
VIII
Nunca quis ser freguês distinto
pedindo isso e aquilo,
vinho tinto,
vinho tinto,
obrigado,
hasta la vista,
queria entrar
com os dois pés
no peito dos porteiros,
dizendo pro espelho
- cala a boca,
e pro relógio,
abaixo os ponteiros.
IX
Nem toda hora
é obra,
nem toda obra
é prima,
algumas são mães,
outras irmãs,
algumas
clima.
Paulo Leminski
sábado, 15 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Quem sabe um dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!
Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!
Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!
Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!
Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.
Mário Quintana
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Ode à Criança
A criança é criativa porque é crescimento e se cria a si própria. É como um rei, porque impõe ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, pré-elaborado, e constrói o seu próprio mundo de ideais. Tem uma sexualidade própria. Os adultos cometem um pecado bárbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial e morto, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe são estranhas. A criança é sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se não for perturbada pela violência, não aceita nada que não possa verdadeiramente assimilar; todo o objeto em que toca vive, a criança é cosmos, mundo, vê as últimas coisas, o absoluto, ainda que não saiba dar-lhes expressão: mas mata-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade.
Robert Musil
sábado, 8 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Ferida exposta ao tempo
É forçoso dizer que me faz falta
o poema que existe e nunca li,
como se algures
brotassem coisas que não vi
e que distantes,
carentes,
dependessem de mim.
Algo como se o intocado fosse a sinfonia
inacabada, mais: rasgada
como o quadro nunca esboçado, perdido
na abatida mão do artista.
O ausente
é uma planta
que na distância se arvora
e é tão presente
quanto o passado que aflora.
E a literatura, mais que avenida ou praça
por onde cavalga a glória, é um
monumento,
sim, de dúbia estória: granito e rima,
alegoria ao vento, lugar onde carentes
e arrogantes
cravamos nosso nome de turista:
— estive aqui, desamado,
riscando a pedra e o tempo
expondo meu sangue e nome
com o coração trespassado.
Affonso Romano de Sant'Anna
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Soneto LXVIII
A menina de madeira não chegou caminhando:
Ali esteve de súbito sentada nos ladrilhos,
Velhas flores do mar cobriam sua cabeça,
Seu olhar tinha tristeza de raízes.
Ali ficou olhando nossas vidas abertas,
O ir e ser e andar e voltar pela terra,
O dia descolorindo suas pétalas graduais.
Vigiava sem ver-nos a menina de madeira.
A menina coroada pelas antigas ondas
Ali fitava com seus olhos derrotados:
Sabia que vivemos numa rede remota
De tempo e água e ondas e sons e chuva,
Sem saber se existimos ou se somos seu sonho.
Essa é a história da moça de madeira.
Pablo Neruda
sábado, 1 de outubro de 2011
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