terça-feira, 29 de junho de 2010

Uma das coisas que aprendi é...

...uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que
insatisfeita
foi a criadora da minha própria vida. (...)
Clarice Lispector

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Canção para um desencontro


Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo
um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho, dos teus
desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.
Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca
deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia.

Lya Luft


terça-feira, 22 de junho de 2010

Aos deuses sem fiéis


Talvez a hora escura, a chuva lenta,
Ou esta solidão inconformada.
Talvez porque a vontade se recolha
Neste findar de tarde sem remédio.
Finjo no chão a marca dos joelhos
E desenho o meu vulto em penitente.
Aos deuses sem fiéis invoco e rezo,
E pergunto a que venho e o que sou.
Ouvem-me calados os deuses e prudentes,
Sem um gesto de paz ou de recusa.
Entre as mãos vagarosas vão passando
A joeira do tempo irrecusável.
Um sorriso, por fim, passa furtivo,
Nos seus rostos de fumo e de poeira.
Entre os lábios ressecos brilham dentes
De rilhar carne humana desgastados.
Nada mais que o sorriso retribui
O corpo ajoelhado em que não estou.
Anoitece de todo, os deuses mordem,
Com seus dentes de névoa e de bolor,
A resposta que aos lábios não chegou.
José Saramago

sábado, 19 de junho de 2010

A felicidade às vezes...


"A felicidade às vezes é
uma bênção,
mas geralmente

é uma conquista."

Paulo Coelho

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A amizade é...



"A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade

cultivando algumas pessoas."

Carlos Drummond de Andrade


terça-feira, 15 de junho de 2010

Dual Core

Recentemente fui à Microsoft, ao laboratório do Bill Gatos, fiz um upgrade e instalei um processador Dual Core.
As vantagens são imensas a nível de desempenho... tudo a dobrar, sentir, amar, sofrer, processar, criar, exprimir.
Funciona também como dois computadores em separado, mas sem dúvida a potência máxima é atingida com a conjugação e partilha de informações e sensações.
Outras características são o poder conjugado da cache inteligente, a coordenação do poder dinâmico e o desempenho em termos de trabalhos intensivos em 3D.
Cuidados a ter, até ver apenas dois: o elevado calor dispendido no duplo processamento e a necessidade de ter uma motherboard adequada, senão o sistema empana! Quanto a isso também há solução... se fizer calor a gente sopra, se o sistema quiser empanar, nada como umas pancadinhas e uns mimos para resolver o assunto.
JET

sábado, 12 de junho de 2010

Pronunciar Amor!


Pronunciamos o amor...
pelo gesto, pelo olhar, pela atitude,
pelo sorrir!...
Eu costumo pensar:
"Amor é a inconsciência da Paixão"
...olhamos para "outrém" um dia, e
bem no fundo dos olhos lemos a alma,
como se fosse um escrito de luz.
Dessa leitura pode nascer uma célebre Paixão!
Arrastamos a paixão pelos caminhos...
do sentir, que pode ou não... germinar no Amor!
E do amor digo:
Caminho, sentimento, entrega, conflito... dor!
Como todos sentimos "Amor",
celebremos a palavra em todas as vertentes...
por isso hoje,
Pronunciemos o "Amor"...

Autor desconhecido


quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mania da dúvida


Tudo para mim é um duvidar
Com a normalidade sempre em cisão,
E o seu incessante perguntar
Cansa meu coração.
As coisas são e parecem e o nada sustém
O segredo da vida que contém.
A presença de tudo sempre perguntando
Coisas de angústia premente,
Em terrível hesitação experimentando
A minha mente.
É falsa a verdade? Qual o seu aparentar
Já que tudo são sonhos e tudo é sonhar?
Perante o mistério vacila a vontade
Em luta dividida dentro do pensar,
E a Razão cede, qual cobarde,
No encontrar
Mais do que as coisas em si revelam ser,
Mas que elas, por si só, não deixam ver.
Alexander Search in "Poesia"

terça-feira, 8 de junho de 2010

Cada qual tem o seu álcool...

Cada qual tem o seu álcool. Tenho álcool bastante em existir.
Bêbado de me sentir, vagueio e ando certo. Se são horas,
recolho ao escritório como qualquer outro. Se não são horas,
vou até ao rio fitar ao rio, como qualquer outro. Sou igual.
E por detrás de isso, céu meu, constelo-me às escondidas e
tenho o meu infinito.

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

sábado, 5 de junho de 2010

A liberdade é...


"A liberdade é o oxigênio da alma."
Moshe Daya

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ao longe os barcos de flores

CLAUDE MONET - The River Bennecourt.1868.
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva grácil, na escuridão tranquila,
-Perdida voz que entre as mais se exila,
-Festões de som dissimulando a hora.
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva grácil na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora...
Camilo Pessanha


terça-feira, 1 de junho de 2010

Imagine só...

Depois de um longo tempo vivendo dentro de mim, resolvi sair para passear.

Primeiro, dei de cara com as coisas que nunca soube decifrar. Fiquei olhando, não apenas atenta, mas boquiaberta com a variedade de interpretações sobre o mesmo tema. Percebi que uns sabiam a vida como um caleidoscópio e dele usufruíam as cores, vivendo numa felicidade enfeitada, onde se aglomeravam falseadas levezas, mas que desempenhavam bem o seu papel de amansadoras de inquietações.

Adoro as canções que nos engolem. Às vezes é somente uma pausa assoprada na melodia ou um tom irriquieto instigado pela harmonia desabrochando aquele aperto no peito, o sorriso pasmado de quem foi pego no pulo e não soube fazer mais do que rir de si para si.

Eu não sei compor canções, mas virei expert em redigir obituários, dando à morte dos meus sonhos um ar de cinema noir e garantindo algumas ressuscitações.

Eu sorrio à toa para os fogos de artifícios.

Eu elaboro silêncios.

Eu construo fantasmas.

Eu tenho medo das coisas que têm medo de me pertencer ou me receber: donas do meu destino, faceirinhas, arrogantes.

Sou temerária das faltas. As de minha autoria e daquelas que outros me impõem.

Não pense que sou prato raso, poça e não rio. Tenho meus momentos de vagabundagem, de preguiça de sair adiante ou mesmo refletir sobre antes.

Há dias em que não saio do lugar.

Há anos eu não saio do lugar.

E que lugar é esse que não me alforria com movimento?

Eu sei... Mania essa de colocar a culpa no tempo que passou rápido demais, no cenário que não favoreceu, nos planos que na prática não se mostraram nada funcionas. Na roupa que serviu errado, no cabelo despenteado por causa do vento, nas cerimônias que empanturraram nosso calendário, e nas chances que se perderam, quando na verdade, nós é que estávamos distraídos com a construção do buraco imenso que cavamos na própria alma, essa habilidade digna de quem teme a vida, a mesma que lhe sopra na boca o alimento, enquanto juramos ela nos matar de fome.

Ah...esse medo da maternidade das nossas almas, da origem do nosso fracasso, sem permissão alguma de assumir que de lá também vem as nossas conquistas.
Eu conquisto olhares e então os catalogo na retina. Meu álbum de intensidades me vira do avesso, vez ou outra. E não importa a cor, ainda que o azul elabore poesias secretas.

Faço de conta...como faço de conta! Sou andarilha do poema esquecido na gaveta, empoeirando ao lado do corpo inerte e desembestada imaginação.

Imagine só... Só, mas sem solidão.

Carla Dias