quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ao longe os barcos de flores

CLAUDE MONET - The River Bennecourt.1868.
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva grácil, na escuridão tranquila,
-Perdida voz que entre as mais se exila,
-Festões de som dissimulando a hora.
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva grácil na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora...
Camilo Pessanha