quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Se eu fosse um padre


Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma…
e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!

Mário Quintana

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Carpe Diem


…Carpe Diem, aproveita o dia.
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco,
sem teres sido um pouco mais feliz,
sem teres alimentado os teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que nada tire o direito de
te expressares que é quase um dever.
Não abandones o anseio de fazer da tua vida
algo extraordinário…
Não deixes de crer que as palavras, o riso e a poesia
podem mudar o mundo…
Somos seres, humanos, cheios de paixão.
A vida é deserto e também oásis.
Aniquila-nos, lastima-nos, converte-nos em
protagonistas da nossa própria história…
Mas não deixes nunca de sonhar,
porque só através dos sonhos
pode ser livre o homem.
Não caias no pior erro, o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso.
Não te resignes…
Não atraiçoes as tuas crenças. Todos necessitamos
de aceitação, mas não podemos remar
contra nós mesmos.
Isso transforma a vida num inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter
a vida pela frente…

Vive-a intensamente, sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro e em
enfrentar a tua tarefa com orgulho, impulso
e sem medo.
Aprende de quem pode ensinar-te…
Não permitas que a vida te passe por cima
sem que a vivas…
Walt Whitman

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Conta-me


Conta-me como foi
que os nossos olhos se olharam ofuscados
pelas luzes que nos iluminou o corpo
Conta-me como se fez um chão
enorme entre nós na noite no silêncio do corpo
Conta-me como aquele chão fundo
mesmo debaixo do solo
nos acolheu com pequenos espaços
em ruínas e de repente uma luz
um brilho no olhar um sorriso no ar
um beijo nos lábios
onde nasceu uma palavra fresca
com a pureza do dia
em que morremos um no outro
Conta-me as palavras
que sempre me disseste
ainda antes de nos conhecermos
Conta-me como o dizias
quando as palavras eram de silêncio
como mudas no meio dos gestos
que trocámos e sentimos
Conta-me mas encosta a tua cabeça
na minha mão e toca-me
com a tua respiração
sente o calor mas conta-me
Conta-me tudo como se
ainda não tivesses
contado nada...

Autor desconhecido

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O vôo


Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indague se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-o de estrelas...
No deslumbramento da ascensão,
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.
Canta, canta...
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um vôo,
no tempo, rumo ao céu?
Que importa a rota!
Voa e canta enquanto resistirem as asas...
Menotti del Picchia

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Não precisamos...


"Não precisamos saber nem "como" nem "onde", mas existe uma pergunta
que todos nós devemos fazer sempre que começamos qualquer coisa:
"Para que tenho que fazer isto?"

"Nós sempre temos tendência de ver coisas que não existem,
e ficar cegos para as grandes lições que estão diante de nossos olhos."
Paulo Coelho

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Contudo


Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com
que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

5° motivo da rosa


Antes do teu olhar, não era,
nem será depois, - primavera.
Pois vivemos do que perdura,

não do que fomos. Desse acaso
do que foi visto e amado: - o prazo
do Criador na criatura...

Não sou eu, mas sim o perfume
que em ti me conserva, e resume
o resto, que as horas consomem.

Mas não chores, que no meu dia
há mais sonho e sabedoria
que nos vagos séculos do homem.

Cecília Meireles

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O resto é segredo


"Ela se pinta para esconder o rosto, seus olhos são águas profundas.
Gueixas não tem desejos. Gueixas não tem sentimentos.
A gueixa é uma artista de um mundo imaginário.
Ela dança. Ela canta. Ela o entretém.
O resto é escuridão. O resto é segredo."
Extraído do livro
Memórias de uma Gueixa