quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Realidade surreal

Ela era vista como uma louca esquizofrênica aos olhos dos normais. Ela enxergava a sua própria realidade, e era isso que a fazia tão real quanto os demais. Ela gostava de flutuar nas nuvens aconchegantes de algodão-doce levemente coloridas com um toque de giz de cera de cores espetaculares, feitos cautelosamente por abelhas com nariz vermelho de palhaço. Sempre quando adormecia em cima das tão deliciosas nuvens, acordava aos berros de sua mãe mandando ela descer imediatamente de cima do seu novo guarda-roupa de marfim, e que caso contrário, ela iria cair e se machucar feio. Ela acordava assustada e ofegante, não conseguia entender como a sua mãe tinha tanto medo de que ela se machucasse, mesmo estando tão protegida por belos dentes-de-leão tão macios quanto amaciante com cheiro de lavanda.

"- Estou bem, mamãe. As minhas amigas formigas me levam cuidadosamente para o solo térreo sã e salva. Não se preocupe. Por acaso, você não quer observar o pôr-dos-girassóis ao meu lado?"

Ela sempre pedia isso à sua mãe, era um sonho de infância que nunca fora realizado. E a cada tentativa de convencer a sua mãe a subir em suas tão doces, fofas e inofensivas nuvens para admirar aquelas luzes reluzentes que mais pareciam lindos e coloridos fogos de artifício - mas claro, feitos impecavelmente pela mãe natureza; e não por toxinas fedorentas - ela só ganhava uma mãe cabisbaixa e melancólica.

Sua teoria, era que sua mãe deveria ter algum trauma de infância assistindo a dança das luzes fogosas e reluzentes dos fabulosos e maravilhosos girassóis. Por causa disso, não insistia tanto - para a felicidade de sua mãe -.

Sua mãe sempre dizia a ela que o mundo em que ela vivia, era um mundo inventado, um mundo de faz-de-conta. E que ela deveria voltar a realidade imediatamente. No entanto, a garota esquizofrênica só conseguia pensar nos raios coloridos, nas margaridas cantantes e no rio de suco de amora. Ela era muito feliz em seu mundo irreal, e estava sempre satisfeita com a doce vida em que vivia. Se ela era feliz, sorridente, cheia de amigos e de alegria constante, porque raios ela deveria voltar para a realidade cinzenta, poluída e barulhenta a qual ela pertencia? ou melhor, não pertencia.

Apenas por que a sociedade faz de todos uns robôs idênticos, manipulados e alienados pela mídia escrota a qual seguimos? Por que ser diferente é ser um louco no mundo real? Ela era superior à todas essas balelas asquerosas. Ela era esperta e realmente muito sortuda. Vivia calmamente e sorridente em suas *supostas* utopias hereditárias. E quer saber do que mais? Ela é o que ela nasceu, e é assim que ela pretende ir levando e rumando a sua *falsa* e extraordinária vida.

(por Eduarda Metzker)