sábado, 24 de outubro de 2009

Quem manda ser romântica?

Essa é em defesa dos românticos:

Se você ainda chora ou pelo menos se comove com certas canções, se você ainda olha, com carinho, para coisas obsoletas como a lua cheia, se você, ao conhecer certos locais incríveis, ainda pensa que irá lá um dia com seu amor, sinto muito, mas eu devo avisar: você está no século errado.

Século errado?! É, século errado. Peça o seu de volta, acho que se enganaram. Você é romântica, isso não se faz mais. Ninguém entende, é como falar chinês no Mineirão, vão olhar para você com perplexidade, talvez com pena.

Os séculos, minha amiga, mudam de ideia, mudam de roupa. O romantismo é uma roupa que não cabe mais. Fica apertada, a perna aparece, ou então fica lamentavelmente larga, grande, excessiva. Aliás, faz tempo que é assim. Lamartine Babo, compositor que trouxe a música brasileira de volta ao caminho da simplicidade, era um romântico incorrigível. Depois de receber cartas inteligentes e bem escritas de uma jovem de Boa Esperança chamada Vera, tomou um ônibus para ir conhecê-la, embora ela tenha dito que o encontro pessoal não seria possível. Chegando na cidade, ninguém quis dizer nada sobre a identidade da garota, embora todos rissem misteriosamente ao desconversar. Disposto a desvendar o segredo, Lamartine se dispôs a conversar com a menos sedutora das moças presentes. Ela, então, revelou-lhe o segredo: a inteligente autora das cartas, por quem Lamartine estava apaixonado, era o irmão dela, professor de Latim.

Pior: toda a cidade sabia do caso, e se divertia às custas dele. O tal professor chegava a ler em público, no clube da cidade, as respostas enternecidas de Lamartine. Nem por isso o genial compositor perdeu o bom humor, censurando-se apenas: "Bem feito, Lamartine! Quem mandou ser romântico?"

O melhor é ser duro, seco, impassível. Nem faça cara feia, leitora, a culpa não é minha, é do século. Faça como aquele colunista sentimental do jornal. Conhece a história? Foi assim. Uma mulher, desesperada porque encontrou o marido com outra, escreveu para a coluna sentimental do jornal. O problema é que a coluna era escrita por um homem. Ela escreveu dizendo: "Pelo amor de Deus, me ajude! Estava indo para o trabalho quando meu carro, sem nenhum motivo, deixou de funcionar. Peguei um táxi e voltei para casa. Encontrei, perplexa, meu marido na nossa cama com uma aluna dele, de vinte anos. Por favor, me ajude!"

Resposta do colunista: "Deve ter sido falta de combustível ou a injeção eletrônica. Procure um mecânico."

Felipe P. Braga Netto