quinta-feira, 8 de abril de 2010

Felicidade


A doce tarde morre. E tão mansa
Ela esmorece,
Tão lentamente no céu de prece,
Que assim parece, toda repouso
Como um suspiro de extinto gozo
De uma profunda, longa esperança
Que, enfim, cumprida, morre, descansa...

E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar,
Toda minhalma foge na brisa:
Tenho vontade de me matar!

Oh, ter vontade de se matar...
Bem sei que é cousa que não se diz,
Que mais a vida me pode dar?
Sou tão feliz!

- Vem, noite mansa...

Manuel Bandeira