quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Errante



Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando

A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,

O paladino audaz da desventura,

Que sonha ser um santo e um poeta,

Vai procurar o Paço da Ventura…

Meu coração não chega lá decerto…

Não conhece o caminho nem o trilho,

Nem há memória desse sítio incerto…

Eu tecerei uns sonhos irreais…

Como essa mãe que viu partir o filho,

Como esse filho que não voltou mais!

Florbela Espanca