CANDIDO PORTINARI, Grupo de meninas
(Grupo de niñas), 1940
Na beira de uma estrada,Pertinho dum vilarejo.Uma mulher acenando,Olhar triste e sorriso meigo.Parece um lugar distante,Uma terra esquecida.Lá, se vê mais morte que vida,É terra que nada tem,É terra de retirante,Não se vê homens na lidaEspera a chuva,A chuva não vem.Mas de longe se ouve a oração...Ave-Maria, Amém!
A poucas jardas dali,Uma mulher na janela,Olhando fito horizonteE nessa triste mazela,Espera a volta do seu homemQue se foi pra lá de ontem - ontemE seu sorriso, com ele partiu também,Mas de longe se ouve a oração...Ave-maria, Amém!
Levado pela esperança,
Roupas velhas na velha mala,Foi longe tentar a sorte,Pra seus filhos livrar da morte.E para trás deixou ela,Numa triste e vã espera;Como quem vê o sonho,No horizonte daquela janelaSua boca nada diz,E se a ela perguntar...Ainda diz que é feliz,Mas seu olhar tudo falaDa fome e da saudadeQue seu coração não cala.Nada na mão, nem um vintém,Mas de longe se ouve a oração...Ave-Maria, Amém!
Sirlei L. Passolongo