quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Poeta e a Rosa



(E com direito a passarinho)
Ao ver uma rosa branca
O poeta disse: Que linda!
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda!
Qual não é sua surpresa
Ao ver, à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação.
É que a rosa, além de branca
(Diga-se isso a bem da rosa…)
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa.
– Que foi? – balbucia o poeta
E a rosa; – Calhorda que és!
Pára de olhar para cima!
Mira o que tens a teus pés!
E o poeta vê uma criança
Suja, esquálida, andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência à rosa.
– São milhões! – a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu, na tua vaidade
Querendo usar do meu nome!…
E num acesso de ira
Arranca as pétalas, lança-as
Fora, como a dar comida
A todas essas crianças.
O poeta baixa a cabeça.
– É aqui que a rosa respira…
Geme o vento. Morre a rosa.
E um passarinho que ouvira
Quietinho toda a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda faz um cocozinho
Na cabeça do poeta.
Vinícius de Moraes


2 comentários:

  1. Sonhei com uma estrela do céu
    Sonhei-a vivendo no meio do Mar
    Sonhei com a verdade de uma palavra
    Soletrei sete vezes a palavra amar

    Neste sonho vi uma árvore triste
    Pensei em sete coisas impossíveis de fazer
    A primeira era voar com as nuvens
    A ultima sobre as águas de um Lago correr

    E vi pássaros de cores nunca vistas
    Refulgentes lírios de ouro de lei
    Apenas uma hortênsia me pareceu ali perdida
    Vi palpitantes borboletas e o coração calei

    Mágico beijo

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  2. Gracias Vinicius!!!
    Carmela.

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