quinta-feira, 11 de julho de 2013

Eu era mudo e só

A perplexidade do moço diante de certas considerações tão ingênuas, a mesma perplexidade que um dia senti. Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo hábito de rir sem vontade, de falar sem vontade, de chorar sem vontade, de falar sem vontade, de fazer amor sem vontade... O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se apoltronando, mais há de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil. Comunicação total, mimetismo: entra numa sala azul, fica azul, numa vermelha vermelho. Um dia se olha no espelho, de que cor eu sou? Tarde demais para sair pela porta afora.
Trecho de  "Eu era mudo e só" (Conto da obra Antes do Baile Verde), de Lygia Fagundes Telles

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