quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Horizonte por Fernando Pessoa


              O mar anterior a nós, teus medos
                 Tinham coral e praias e arvoredos.
                  Desvendadas a noite e a cerração,
                As tormentas passadas e o mistério,
               Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
                 Splendia sobre as naus da iniciação.
 
                    Linha severa da longínqua costa -
         Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
                 Em árvores onde o Longe nada tinha;
          Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
                  E, no desembarcar, há aves, flores,
              Onde era só, de longe a abstracta linha.




   O sonho é ver as formas invisíveis
   Da distância imprecisa, e, com sensíveis
      Movimentos da esp'rança e da vontade,
    Buscar na linha fria do horizonte
    A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
    Os beijos merecidos da Verdade.

Poema do livro Mensagem
de Fernando Pessoa e Pedro Sousa Pereira. 
Lançado em novembro de 2006,
Editora: Oficina do Livro, pt.

Mensagem é a única obra completa de Fernando Pessoa publicada em vida.

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