segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Com licença poética



Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Năo sou feia que năo possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora năo, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor năo é amargura.
Minha tristeza năo tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldiçăo pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado 




Nenhum comentário:

Postar um comentário