quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Asas da liberdade


Logo que o sol aponta no resplandecer de cada dia nascente, a natureza saúda os homens com suas hostes de esperança. Então, faz um convite mágico a todas as criaturas que transitam nesse planeta, convocando-as para, juntamente com ela, o seu destino. Sua voz é fina, é dotada de insigne beleza; sua voz canta alto. A natureza comunica-se conosco pelos mais diversos meios, mas é pelo canto dos pássaros que ela faz valer a sua voz.

Pássaros grandes, pequenos. Sua plumagem abastada ensina a lição que a magia da criação está na sua diversidade; com cantos magníficos ou simples piados eles cumprem a sua missão de levar aos ouvidos humanos as mensagens implícitas da vida, como verdadeiros Hermes da existência.

Mas de todas as raças, uma com certeza conquista o homem.

Oriundos da Austrália, os pássaros da raça Diamante Gold hipnotizam-nos pela sua graça e inocência, que só os seres do Éden são capazes de possuir. Penas em cores exaltadas preenchem os corpos das pequenas aves, verdadeiras obras de arte pintadas por autoria do acaso. Pássaros de imenso primor, como aquele que Amanda ganhou no seu aniversário.

O presente veio das mãos do pai, que buscava amenizar a angústia de uma filha deprimida. Confinada a uma cadeira de rodas, a menina, no entanto, já havia se acostumado com sua sina. Desde muito nova, nunca viveu a vida igual às outras pessoas: participava de seu modo, num mundo particular, composto de atos e comportamentos diferentes, mas os quais não podia repreender. A intransigência dos homens a repudiava, de um lado pelo preconceito e de outro pela indiferença.

Sentia-se familiarizada com o pássaro. Afinal, ambos viviam num mundo de prisões. As lembranças de sua vivência reapareciam das covas pútridas de sua angústia, trazendo consigo melancolia. Não era fácil enfrentar as crianças que apontavam os dedos curiosos em sua direção, todos os dias, ou o constrangimento ser diferente, de jamais imaginar a sensação de coisas simples que todas as pessoas faziam, sem entender o encanto de cada ato. O animal na gaiola lhe sentimentos desagradáveis. Com certeza, seria melhor que ele estivesse livre.

A sós com o passarinho, Amanda observava, embasbacada, a beleza única do animal. Abruptamente, segurou a gaiola nas mãos. Os olhos atentos da ave voltaram-se para a menina, analisando o desconhecido. No olhar, podia-se sentir a pureza que jamais seria corrompida.

Amanda abriu a portinhola da gaiola e agarrou a pequena ave, de tons negros e azulados, nas suas mãos. Uma comunicação silenciosa se fez, através dos olhares imobilizados.

A menina dirigiu-se à janela; em seguida soltou o pássaro, elevando de uma só vez seus braços aos céus..

Pelas árvores verdejantes do parque ela ainda podia ver o ilustre animal, alternando seus vôos e pousos, entre peripécias. Nas asas da liberdade, Amanda também voava, realizando os seus mais infantes sonhos, delírios de uma mente sedenta de libertação.

No fim, ela ouvia as vozes da natureza falando e entendia, por sons compreendidos somente pela pureza, que o homem pode até transformar a vida e construir gaiolas, mas seu verdadeiro valor, consiste de fato, numa atitude que exige muito menos dele: abrir as portas de suas prisões e se integrar, assim como os pássaros, à fonte de toda a sua existência, a natureza.

Autor desconhecido