terça-feira, 30 de junho de 2009

Deixei de ser aquele que esperava


Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui…
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.


A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.
Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.

Fernando Pessoa