terça-feira, 17 de junho de 2008

A perda

Instalei-me abruptamente no centro do meu jardim. Rápido como notícia ruim, nublado e destrutivo como tempestade inesperada.
Pra mim estava tudo cinza e sem calor, apesar do dia claro e quentinho de primavera. Fui sentar-me naquele lugar preferido, aonde eu passava horas e horas com o meu filho.
Daqui, tenho uma visão privilegiada. Vejo muitas árvores frutíferas e muitas flores. Eu contemplava aquilo tudo não achando graça nenhuma nem tirando proveito: os frutos madurinhos não tinham sabor, as flores coloridas não tinham beleza nem odor.
Alta primavera: exuberância e abundância de todos os tipos de flores, de todos os cheiros e cores... Mas eu não sentia perfume algum. Pra mim tudo estava escuro, sem graça, beleza e vida.
Nem as magníficas orquídeas encantavam. Antes pelo contrário, de lindíssimas plantas exóticas que são, transformaram-se, pra mim, em reles planta comum, brejeira...
Eu tinha era ódio mortal daquilo tudo. Até da mais singela e indefesa criaturinha, animalzinho, inseto, eu tinha raiva e vontade de matar, pisar em tudo com a força e o desprezo dos meus pés.
Vendo o gracioso e leve vôo das borboletas eu me sentia mais desgraçado, pesado e angustiado. Via as abelhinhas trabalhando para produzir o mel, e aquilo só potencializava ainda mais o veneno que corria desesperado nas minhas veias.
Toda aquela animada natureza, movimentando-se alegre e indiferente ao meu sofrimento, me causava uma revolta sem tamanho. Era uma injustiça insuportável de se ver.
Prostrado e sozinho, abaixei a cabeça, fechei os olhos, e chorei...