segunda-feira, 23 de junho de 2008

Prêmio

Chega embrulhado para presente. Agitada, corro para abrir. Porém, as amarras são muito fortes, não consigo sem ajuda. Chamo alto, por favor ajudem, preciso abrir este prêmio, pois é meu! Ganhei! Agitada, aguardo os amigos que correm, curiosos. Trazem tesoura, faca, estilete. Cortamos daqui e dali, arrancamos os papéis, alegria por todos os lados. Mas porque foi o prêmio? Também não sei. Chegou, assim, vindo não se sabe de onde! Ainda uma caixa dentro da caixa, mais papel, amarras que se cortam, ansiedade. Não pode ser. Se ganhou tem que saber porque. Como ganha e não sabe? Mas não sei! Procuro lembrar... Na verdade tenho feito de tudo para ganhar algum. Tenho procurado melhorar desde o mais íntimo de mim. Tenho procurado não ferir, não destratar, tenho procurado ajudar, trabalhar bem, aprimorar. Tenho procurado esmero em cada relação, em cada obrigação, em cada pequena coisa. Tenho procurado tanto! Decerto mereço. Por isto ganhei. Eu sei, digo. Ganhei porque mereço! E nada mais. Enfim chegamos à ultima caixa. Papel de seda, seguro com cuidado e desembrulho devagar. Cuidado, frágil. É lindo! Ficamos em silêncio, meu coração transborda. Este prêmio é meu! É o primeiro que recebo, eu me emociono. Aonde vamos colocar? Na estante? Na mesinha? Naquele móvel ali? Coloco na estante. Olhamos. Ficou lindo! Então num repente, sem golpe de ar, sem que ninguém o toque, desmancha-se diante de todos nós. Transforma-se em pó. Olhamo-nos. Nada dizem, nada digo. Sabemos. Não foi desta vez. Esse prêmio, ainda não mereci.