quinta-feira, 31 de julho de 2008

Uma luz na janela

Toda tarde quando voltava cansada do trabalho para minha casa, passava pelo centro da pequena praça de minha cidadezinha. Caminhando distraída pelas aléias cheias de flores, não percebia mais nada além do perfume no ar exalado pelas plantas e de uma janela que ficava ao fundo, destacando-se no escuro da tarde em seu quadrado iluminado.
Todos os dias era a mesma coisa, quando entrava na praça, via ao fundo a janela e sentia o perfume no ar.

Passaram-se semanas naquela rotina.

Certa noite, voltando um pouco mais tarde que o costume, andei mais devagar pelas aléias perfumadas. De vez em quando parava para olhar ao redor, cheirava o ar! Alguma coisa estava diferente, e não conseguia imaginar no que poderia ser! Continuei andando pela praça, distraída e pensativa, até que me veio a lembrança: A JANELA!

Ora! Vejam só! O que me chamou a atenção foi isto: “a janela estava escura.”

Fiquei a imaginar o que teria acontecido! Por que a janela estava escura hoje?

Parei, e fiquei a olhar na direção onde deveria estar o retângulo de luz. Fiquei ali alguns minutos, sem pensar em nada, apenas olhando naquela direção. O barulho de um carro passando em uma rua lateral tirou-me então daquele devaneio, e voltando à realidade da vida, pensei: Como o ser humano se apega às mínimas coisas! Como aquela luz refletida em uma janela desconhecida, já fazia parte do meu dia a dia! O simples fato de não estar lá naquela noite, causou-me um sentimento de perda, ao ponto de fazer-me ficar ali parada, pensando!

Então analisei, como muitas coisas e acontecimentos, essa janela já fazia parte da minha jornada pela vida!

(Paola Rhoden)

Garimpo de Palavras, Antologia de contos premiados da editora Guemanisse, lançado em setembro de 2007.