terça-feira, 4 de outubro de 2011

Soneto LXVIII



A menina de madeira não chegou caminhando: 
Ali esteve de súbito sentada nos ladrilhos, 
Velhas flores do mar cobriam sua cabeça,  
Seu olhar tinha tristeza de raízes. 
Ali ficou olhando nossas vidas abertas,  
O ir e ser e andar e voltar pela terra,  
O dia descolorindo suas pétalas graduais.  
Vigiava sem ver-nos a menina de madeira. 
A menina coroada pelas antigas ondas  
Ali fitava com seus olhos derrotados:  
Sabia que vivemos numa rede remota 
De tempo e água e ondas e sons e chuva,  
Sem saber se existimos ou se somos seu sonho.  
Essa é a história da moça de madeira. 
Pablo Neruda

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